Uma casa, na minha concepção do termo, é uma espécie duma "toca". Esta ideia remete-nos desde logo para um lado animal e natural do conceito de casa. Uma casa é uma coisa que está "em relação" com o que há fora de si, ou seja, o conceito de casa implica uma relação com a Natureza: a função da casa é regular a relação do Homem com a Natureza, defendê-lo das intempéries, das temperaturas extremas, da acção de outros animais, etc. E para mim, não só a casa é uma forma de relação com a Natureza, como deve ser uma extensão modificada e um reflexo dela: deve ser um pedaço de Natureza transformada de modo a servir o Homem nas suas necessidades, e não deve ser uma coisa separada da Natureza, sem vestígios dessa Natureza dentro de si. Em todas as culturas tradicionais, o recheio das casas privilegia significados relacionados com a Natureza: peles de caça, chifres de presas, couros, tapeçarias, representações artísticas de animais e plantas, materiais "nobres" como a madeira ou o mármore, e por aí fora.
Outra característica que, para mim, uma casa deve ter, é conforto. A casa, já que é feita para regular a relação do Homem com a Natureza, deve ter condições benignas para o Homem: conforto, luz, calor, por exemplo. Mas mais do que isso, deve representar uma relação de amor do Homem consigo próprio: o Homem deve tratar-se com carinho através da sua casa. As coisas devem estar lá para o servir, para tornar a sua existência mais agradável e criativamente rica. Não é necessário que haja luxo: tudo isto pode ser feito com simplicidade e despojamento.
Finalmente, para mim, uma casa deve ter em si também uma relação da pessoa que a habita com a História da sua cultura e da sua família, e deve ter um sentido de continuidade entre o passado, o presente e o futuro. Esta relação não deve estagnar no passado, através de estilos antigos ultrapassados, mas também não deve ignorar o passado. E deve ter em si o reflexo das experiências presentes que vão alterando a relação do Homem com o mundo, aberta à introdução de novos elementos no futuro.
Por todas estas razões, é-me difícil gostar de estilos arquitectónicos que rompam com estas três características, como por exemplo o minimalismo. Como é que é possível alguém sentir-se na sua "toca" numa casa minimalista? Onde está aí representada a relação com a Natureza, a ligação aos elementos culturais que fazem parte da história da pessoa e das suas origens, e onde está aí o conforto, o calor e o carinho das pessoas para consigo próprias? Onde está aí a promoção duma existência agradável e criativamente rica? E quem diz o minimalismo, diz também muitos outros estilos... é raro encontrar casas em que uma pessoa chegue e aprecie esta densidade e maturidade no "saber viver". Mas viver é de facto uma experiência que pode ser muito mais do que a maior parte de nós sabemos.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
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