O processo de autonomização é uma das coisas mais importantes no desenvolvimento humano. A criança tem o desafio da autonomia tão cedo como entre os 12 meses e os 3 anos de vida, e este processo é influenciado pela sua relação com os seus pais, através de coisas como a liberdade e apoio que tem ou não para explorar o ambiente, para tomar iniciativas, etc. Mas, apesar de nesta idade ser uma questão central, continua a ser, pela vida fora, um processo em evolução que em grande parte dos adultos ainda está a ser trabalhado e a influenciar profundamente a sua vida.
A autonomia tem a ver com o facto de a pessoa se assumir e se tornar uma pessoa com uma individualidade própria, diferenciada e separada dos outros, nomeadamente dos pais (ou de outras pessoas significativas quando se trata de adultos). É constituída por várias componentes:
Uma componente emocional - a pessoa sentir-se ou não abandonada, isolada, nostálgica, perdida, triste, etc., quando experimenta a solidão, ou, por outro lado, estar bem consigo própria apesar de apreciar e precisar da companhia de outros para se sentir mais feliz.
Uma componente cognitiva - a pessoa ser ou não capaz de ter uma relação plena com as suas experiências, sendo capaz de reconhecer, avaliar, compreender, e dar significado aos acontecimentos, às pessoas, aos lugares, etc., sem precisar da mediação de outros para esse efeito.
Uma componente de identidade - a pessoa ser capaz de definir quem é e como é, diferenciando-se dos outros e das suas origens, criando a sua própria maneira de ser e estar no mundo, os seus próprios valores e ideologias, preferências, gôstos estéticos, etc., sem se sentir perdida, confusa, anónima ou "amorfa" quando separada das suas origens (não se trata de abandonar as suas origens, mas de senti-las mais como uma parte de si própria que representa uma base e um ponto de partida).
Uma componente ligada ao "self" - a pessoa ser capaz de - sem precisar da validação de outros - reconhecer e gerir os seus estados psicológicos internos (humor, sensações, idéias, etc.) e as diferentes dimensões que constituem o seu "eu".
Uma componente ligada ao seu auto-conceito - a pessoa avaliar-se e aprovar-se a si própria segundo os seus próprios critérios e não por critérios externos.
Uma componente relacional - a pessoa assumir-se como um interveniente nas relações com os outros, alguem que age e reage com um conjunto de características como afirmação, assertividade, iniciativa, sensibilidade, responsabilidade, ponderação, etc.
Uma componente comportamental - um repertório de competências e aprendizagens importantes (como a capacidade de se auto-sustentar, de prover às suas necessidades, de aprender, de planificar e implementar objectivos, e poderíamos continuar a enumerar por aí fora uma quantidade de aquisições importantes para a vida da pessoa).
E também se poderia enumerar mais componentes que não me esteja a lembrar daquilo a que chamamos autonomia, mas estas parecem-me talvez as mais importantes.
Este caminho faz-se nas relações humanas mais importantes para a pessoa ao longo da sua vida, sendo que o equilíbrio entre a segurança e a liberdade são essenciais para que seja um caminho bem sucedido. É um caminho longo, delicado e às vezes doloroso, mas que envolve também a paixão da descoberta de si próprio e da maravilha que é viver, sentir e apreciar este Dom misterioso e infinitamente grandioso que é existir.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
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