
Quando a minha prof. Emília disse numa aula que "em todas as relações humanas há uma luta de poder", a minha reacção foi de desconfiança e espanto. Então por acaso a vida trata-se só de luta? Será que quando estamos com família, amigos, namorada, estamos a pensar em dominá-los? Claro que não, pensava eu. E continuo a pensar que não, nesse sentido.
Mas noutro sentido, depois de começar a reparar nisso, descobri que ela tem razão, em todas as relações humanas há uma luta de poder. Cada um de nós representa um pedaço de energia que vai em determinada direcção, e as direcções das pessoas não coincidem exactamente entre si, o que significa... luta de poder. Cada um tenta levar a sua a cabo, não em coisas grandes, mas em coisas pequenas, subtis.
Não estou a falar de guerras ou conflitos abertos, mas de comparações de força, tentativas de modelar o outro segundo os nossos padrões, etc. Num grupo de amigos há os que numa conversa falam mais e outros menos, há os que têm mais poder de decisão, etc. E entre duas pessoas também há hábitos e padrões que se formam quando a relação está a começar e que regulam que tipo de coisas são esperadas de ambos. E esses padrões vão sendo testados por um e por outro em tentativas subtis e inconscientes de controlo e de libertação. Não é maldade, não é egocentrismo, não é intencional, não é anormal. Existe e é natural, e o melhor nome para descrever esses equilíbrios que se geram numa relação, é... luta de poder.
Há um autor brasileiro, Roberto Freire, um psiquiatra, que compara a Psicologia a Política, pois diz que todos os problemas psicológicos vêm da falta de liberdade para se viver o prazer que se busca naturalmente, e que essa falta de liberdade vem dos outros que nos pressionam, condicionam, etc. Ele criou uma técnica terapêutica que tem o objectivo de fazer com que as pessoas tomem consciência dos modos como a sua liberdade é cortada subtilmente pelos outros nos padrões de relacionamento do dia-a-dia, para depois re-encontrarem essa liberdade e viverem o prazer que é suposto a vida oferecer. No fundo, é uma questão de política, é equilibrar o poder que cada indivíduo exerce sobre si e sobre os outros. Não concordo a 100% com a sua teoria, principalmente porque ele sexologiza muito a questão (como todos os psicanalistas clássicos), e reduz bastante o prazer ao sexo. Mas acho que a sua visão tem muito de verdade, também.
Liberdade pra dentro da cabeça!!
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