sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Poder


Quando a minha prof. Emília disse numa aula que "em todas as relações humanas há uma luta de poder", a minha reacção foi de desconfiança e espanto. Então por acaso a vida trata-se só de luta? Será que quando estamos com família, amigos, namorada, estamos a pensar em dominá-los? Claro que não, pensava eu. E continuo a pensar que não, nesse sentido.

Mas noutro sentido, depois de começar a reparar nisso, descobri que ela tem razão, em todas as relações humanas há uma luta de poder. Cada um de nós representa um pedaço de energia que vai em determinada direcção, e as direcções das pessoas não coincidem exactamente entre si, o que significa... luta de poder. Cada um tenta levar a sua a cabo, não em coisas grandes, mas em coisas pequenas, subtis.

Não estou a falar de guerras ou conflitos abertos, mas de comparações de força, tentativas de modelar o outro segundo os nossos padrões, etc. Num grupo de amigos há os que numa conversa falam mais e outros menos, há os que têm mais poder de decisão, etc. E entre duas pessoas também há hábitos e padrões que se formam quando a relação está a começar e que regulam que tipo de coisas são esperadas de ambos. E esses padrões vão sendo testados por um e por outro em tentativas subtis e inconscientes de controlo e de libertação. Não é maldade, não é egocentrismo, não é intencional, não é anormal. Existe e é natural, e o melhor nome para descrever esses equilíbrios que se geram numa relação, é... luta de poder.

Há um autor brasileiro, Roberto Freire, um psiquiatra, que compara a Psicologia a Política, pois diz que todos os problemas psicológicos vêm da falta de liberdade para se viver o prazer que se busca naturalmente, e que essa falta de liberdade vem dos outros que nos pressionam, condicionam, etc. Ele criou uma técnica terapêutica que tem o objectivo de fazer com que as pessoas tomem consciência dos modos como a sua liberdade é cortada subtilmente pelos outros nos padrões de relacionamento do dia-a-dia, para depois re-encontrarem essa liberdade e viverem o prazer que é suposto a vida oferecer. No fundo, é uma questão de política, é equilibrar o poder que cada indivíduo exerce sobre si e sobre os outros. Não concordo a 100% com a sua teoria, principalmente porque ele sexologiza muito a questão (como todos os psicanalistas clássicos), e reduz bastante o prazer ao sexo. Mas acho que a sua visão tem muito de verdade, também.

Liberdade pra dentro da cabeça!!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Utopia

Acredito que o Homem é um ser naturalmente nómada, e, num sentido evolucionista, a percentagem de tempo que a nossa espécie passou como nómada é esmagadoramente maior do que a percentagem de tempo que passou como sedentária. O aparecimento da agricultura foi a responsável pelo aumento da produção alimentar que pela primeira vez na História significou a existência de um excedente que as pessoas poderiam comercializar. Esse excedente – as colheitas agrícolas – eram armazenadas em locais comunitários e serviam como moeda de troca por outros bens de que as pessoas necessitavam. Uma vez que começou a haver um excedente da produção agrícola para ser trocado por outros bens, passou a haver uma representação simbólica do seu valor, e daí foi um simples passo para o aparecimento de valores abstractos representados por um símbolo: a moeda, o dinheiro. Da agricultura e da gestão do seu produto nasceu o sedentarismo, a necessidade de demarcação e defesa de territórios e fronteiras, e a estratificação da sociedade numa complexidade exagerada de especializações profissionais.

Para além disso, a agricultura significou uma mudança não só da própria sociedade humana, mas da Natureza em si. A filosofia de todos os povos caçadores e recolectores de frutos, sempre foi a do respeito pelo estado da Natureza: estes povos realmente deixavam poucos vestígios da sua passagem, e o ciclo natural de renovação prosseguia após a sua passagem. A agricultura foi o princípio da transformação da paisagem, do aspecto da superfície da Terra, e da interferência na ordem natural da fauna e da flora. Num campo agrícola, onde originalmente viviam milhares de espécies de plantas e animais num equilíbrio harmonioso e interdependente, a agricultura vem reduzir essa variedade a um pequeno punhado de espécies animais e vegetais: a planta cultivada e os poucos insectos, pássaros, ratos e ervas daninhas que dependem e coexistem com essa única espécie vegetal.

A sedentarização trouxe, assim, uma redução astronómica da variedade animal e vegetal sobre a Terra, e uma redução astronómica da variedade inerente à experiência humana sobre a Terra. A vida moderna não proporciona às pessoas uma vida global em experiências. Somos projectados desde que nascemos para um esquema de vida redutor e corrosivo da nossa energia vital. E o mais triste é que a maior parte de nós adopta como sua própria filosofia esse estilo de vida, aprendendo a defender a necessidade da indústria, do petróleo, dos tribunais, das prisões, do Estado, da Economia, e de todos os mecanismos sociais que mantêm a corda ao pescoço do homem livre.

É fácil de reparar, através da cultura, da arte e até da expressão facial e da fisionomia dos povos nómadas, a riqueza experiencial das suas vidas. Estes povos são dificilmente “domados” pela “civilização”, tentando sobreviver num equilíbrio miserável mas no qual se pode admirar os vestígios duma nobreza arcaica. Os povos sedentários recorrem a eles para reavivar os seus instintos vitais através das suas músicas, das suas lendas, e dos significados românticos associados às suas raças. De facto, os antigos povos nómadas tinham uma experiência de vida global, rica em variedade de actividades, sentimentos, lugares, e tudo o mais. Um nómada acordava quase cada dia em lugares diferentes, conhecia diferentes climas, diferentes faunas e floras, diferentes culturas humanas, diferentes linguagens, resumindo, diferentes experiências. Este facto obrigava-o a viver no aqui e no agora, tendo pouca margem para estar preso a bens materiais, a memórias do passado, e tendo em cada dia uma necessidade vital de se adaptar às experiências do presente. Havia pouco espaço para uma estratificação exagerada das actividades profissionais, e cada pessoa fazia um bocadinho de tudo.

A sua experiência de vida era global, como foi feita para ser com todos os seres humanos, e era simples e despojada. Apesar de já não ser possível ser-se nómada sobre a Terra, o nomadismo é ainda uma óptima imagem para ilustrar um conjunto de conceitos desejáveis e essenciais para a vida humana, quer seja nómada ou não: o despojamento, a simplicidade, a vivência do presente, a vitalidade, o respeito e comunhão com a Natureza, a cooperação, etc., etc. E não é nada por acaso que na Bíblia os nómadas são sempre vistos como uma espécie de “predilectos” de Deus: os pastores, viajantes, peregrinos, etc. (nómadas), são sempre escolhidos em detrimento dos agricultores ou outro tipo de sedentários. Isto vê-se em várias ocasiões: Caim, o agricultor, matou, por inveja, o seu irmão Abel, pastor nómada; entre todos os filhos de Jessé, o escolhido para ser o futuro rei de Israel foi o mais novo e insignificante, David, que andava pelos campos a tocar harpa e a apascentar as ovelhas; na parábola do filho pródigo, o agricultor invejoso protesta com seu pai por perdoar ao seu irmão que partiu em viagem para terras distantes (onde viveu em pecado); São João Baptista e a maior parte dos profetas eram peregrinos errantes; e o próprio Jesus viveu a caminhar, sem ter onde reclinar a cabeça.

Utópico? Sim, sou utópico. A minha alma sobrevive pela esperança de uma total e completa revolução. Os meus pulmões respiram em livros de anarquia. O meu espírito anseia pela elevação da Humanidade a um estado superior digno do seu nome. Só o amor é a solução. É a pedra angular da anarquia e o segredo da utopia.

E o amor é Deus, e Deus é Jesus Cristo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O CERN da questão (ficção científica torna-se realidade)

"O professor Otto E. Rössler, nascido em 1940, é acadêmico de longa trajetória e membro do Instituto de Química Física e Teórica da Universidade de Tübingen. Ele é um dos que advertem contra eventuais efeitos destrutivos do LHC (Large Hadron Collider), o maior acelerador de partículas do mundo, a ser posto em atividade nesta quarta-feira (10/09).

Suas advertências têm sido ignoradas ou ridicularizadas pela comunidade científica. E no entanto o que estaria em jogo é a sobrevivência da humanidade, afirma. O cientista alemão concedeu uma entrevista exclusiva à DW-WORLD.DE.

DW-WORLD.DE: Que perigos acarreta o acelerador de partículas LHC (Large Hadron Collider)?

Rössler: Pela primeira vez se incrementará a energia por um fator de oito. É como se se aumentasse a potência de um microscópio oito vezes mais do que jamais foi feito. Ou se acelerasse um meio de transporte a uma velocidade oito vezes maior. Sempre podem surgir imprevistos. E, naturalmente, o mesmo ocorre neste caso. Dever-se-ia, por exemplo, incrementar a energia lentamente, para poder prevenir o que ocorre. Ao contrário, planeja-se incrementá-la de um golpe só, e isto é muito imprudente.

Há perigos que não foram excluídos e que, no entanto, não se deveria descartar antes de empreender algo arriscado. Não seria tão difícil excluí-los convocando peritos na matéria e pedindo-lhes que refutassem os cenários de risco postos sobre a mesa. Porém isto não foi feito. Recusando-se, o CERN [Conselho Europeu de Pesquisa Nuclear, em Genebra] está atuando de maneira irracional, indigna da ciência, e que a desacredita em nível mundial. Quer dizer, trata-se de uma questão exclusivamente teórica. Infelizmente, relacionada com a sobrevivência da humanidade.

Fala-se, neste contexto, da "criação" de buracos negros...

Vemos, sim, o perigo de buracos negros. É precisamente isto o que se poderia produzir e, na realidade, são eles um dos objetivos desse experimento.

Quer dizer que se poderia produzir um buraco negro que cresceria, devorando tudo a seu redor?

Em última instância, sim. Seria um miniburaco negro, imensamente pequeno. Há apenas algumas teorias segundo as quais eles poderiam produzir-se, e são estas que o CERN quer comprovar. Entretanto, se esses miniburacos negros surgirem – à razão de um por segundo, que é o que se espera – e um deles permanecer na Terra, em vez de se "evaporar", a única coisa que poderia fazer é crescer. O CERN pensa que se esfumarão, mas há indícios concretos de que tal poderia não acontecer. E é isto o que se deveria esclarecer. Caso não desapareçam, devorariam a Terra a partir do interior, em algum momento, com maior ou menor velocidade. O CERN argumenta que lentamente. Eu creio que seria rapidamente."

AAHHH!! E se este cientista tem razão? :-I loll...

(notícia aqui)
"O princípio dinâmico da fantasia é o jogo, que pertence à criança, e como tal parece ser inconsistente com o trabalho. Mas sem este brincar com fantasia ainda nenhum trabalho criativo alguma vez foi feito."

Carl Jung